Uma organização não opera de forma isolada, pois para atingir o sucesso e alcançar os seus objetivos empresariais ela conta com uma complexa rede de relacionamentos de partes externas à empresa. Dessa forma, a busca por uma cadeia de suprimentos resiliente e sustentável não é uma discussão nova no mundo dos negócios e tem como objetivo não somente a mitigação de riscos (incidentes, saúde e segurança, imagem, interrupção de negócios, digital, entre outros), mas também a otimização de recursos, a redução de custos, e o atendimento às regulamentações e normas internas.

Além disso, a pandemia da Covid-19 reforçou a necessidade de as organizações terem iniciativas de continuidade e resiliência de negócios organizacionais e em entenderem melhor suas dependências críticas de subcontratados, aumentando, assim, o foco específico em ações de terceiros.

De acordo com a pesquisa Global de Gestão de Riscos de Terceiros de 2021, lançada pela Deloitte, maior organização de serviços profissionais do mundo, que contou com mais de 1.100 entrevistados globalmente, mais da metade (51%) das empresas enfrentou um ou mais incidentes de risco de terceiros desde o início da pandemia. O levantamento mostrou que os riscos de saúde e segurança, cibernético e resiliência são os domínios de riscos mais impactados, segundo as organizações; esses aspectos também foram destaques na pesquisa “Cinco Pilares de Riscos Empresariais 2022”, também conduzida por nós da Deloitte, como um dos principais desafios para médio e longo prazos, com ênfase em 49%.

Consequentemente, a pandemia aumentou o desejo organizacional de gerenciamento inteligente de riscos de terceiros. Quando questionadas sobre quais riscos emergentes eram de maior preocupação, a maioria (71%) das organizações citou o digital. Na sequência foram apontados os riscos de resiliência financeira (41%), diversidade e inclusão (40%) e saúde e segurança (38%).

Outro dado do estudo global de 2021, sobre riscos de terceiros, que chama bastante atenção é o de 99% dos entrevistados acreditam que ser um negócio responsável é uma prioridade maior ou semelhante ao ano anterior. No entanto, apesar da prioridade, as próprias organizações apontaram que têm pouco conhecimento e menor maturidade quanto aos riscos de greenwashing (quando há discurso promovendo características sustentáveis, mas sem que ações ocorram na prática), saúde e segurança, mudança climática, ambiental e ética.

Ou seja, ainda que a temática ESG (sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa) tenha ganhado destaque com o advento da pandemia, acompanhando a mudança da perspectiva do mercado sobre geração de valor, as empresas ainda não estão completamente estruturadas para responder a esta demanda.

Sabemos que, de uma perspectiva de negócios, construir uma cadeia de suprimentos sustentável ajuda não somente a reduzir os riscos, tais como interrupções da operação, corresponsabilização civil por danos, impactos à imagem e reputação, e outros já citados, como também contribui, acima de tudo, com a geração de impacto positivo aos stakeholders e à sociedade. Para isso, as companhias precisam incorporar aos seus processos de gestão de risco de terceiros olhares mais aprofundados também sobre as temáticas de ESG.

Sob a perspectiva ambiental, aspectos como a contribuição dos fornecedores nas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), as formas de uso e exploração dos recursos naturais, os potenciais impactos na biodiversidade, as características dos resíduos gerados e suas destinações, são temas relevantes, entre vários outros. No âmbito social, as organizações devem incluir questões de direitos humanos, práticas laborais, diversidade, equidade e inclusão. E, quanto aos aspectos de Governança, destacamos as práticas anticorrupção e gestão de riscos e compliance.

Ao identificar riscos nessas complexas redes de relacionamento com terceiros, as organizações devem construir planos de ação inclusivos, elaborados de preferência em forma conjunta com seu fornecedor, passando, assim, a serem de fato agentes de transformação, contribuindo ativamente para transformar sua cadeia e impactando positivamente a sociedade, ao gerar redes sustentáveis e responsáveis.

É essencial que as organizações compreendam o potencial impacto que há no fortalecimento das cadeias de suprimentos sustentáveis e, consequentemente, na sociedade.

Fonte: https://revistamundologistica.com.br/